sábado, 28 de novembro de 2009

Quase

Ainda pior que a convicção do não e a incerteza do talvez é a desilusão de um quase. É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi. Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou. Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas idéias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono.

Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor não me pergunto, contesto. A resposta eu sei de cór, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "Bom dia", quase que sussurrados. Sobra covardia e falta coragem até pra ser feliz. A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai. Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são. Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza. O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si.

Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência porém,preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer. Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo. De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance. Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar. Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu.

Sarah Westphal

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Reflita

A certa altura do filme Crimes e Pecados, o personagem interpretado por Woody Allen diz: "Nós somos a soma das nossas decisões".Essa frase acomodou-se na minha massa cinzenta e de lá nunca mais saiu. Compartilho do ceticismo de Allen: a gente é o que a gente escolhe ser, o destino pouco tem a ver com isso.Desde pequenos aprendemos que, ao fazer uma opção,estamos descartando outra, e de opção em opção vamos tecendo essa teia que se convencionou chamar "minha vida". Não é tarefa fácil. No momento em que se escolhe ser médico, se está abrindo mão de ser piloto de avião. Ao optar pela vida de ator, será quase impossível conciliar com a arquitetura. No amor, a mesma coisa: namora-se uma, outra, e mais outra, num excitante vaivém de romances. Até que chega um momento em que é preciso decidir entre passar o resto da vida sem compromisso formal com alguém, apenas vivenciando amores e deixando-os ir embora quando se findam, ou casar, e através do casamento fundar uma microempresa, com direito a casa própria, orçamento doméstico e responsabilidades.As duas opções têm seus prós e contras: viver sem laços e viver com laços...Escolha: beber até cair ou virar vegetariano e budista? Todas as alternativas são válidas, mas há um preço a pagar por elas.Quem dera pudéssemos ser uma pessoa diferente a cada 6 meses, ser casados de segunda a sexta e solteiros nos finais de semana, ter filhos quando se está bem-disposto e não tê-los quando se está cansado. Por isso é tão importante o auto conhecimento. Por isso é necessário ler muito, ouvir os outros, estagiar em várias tribos, prestar atenção ao que acontece em volta e não cultivar preconceitos. Nossas escolhas não podem ser apenas intuitivas, elas têm que refletir o que a gente é. Lógico que se deve reavaliar decisões e trocar de caminho: Ninguém é o mesmo para sempre.Mas que essas mudanças de rota venham para acrescentar, e não para anular a vivência do caminho anteriormente percorrido. A estrada é longa e o tempo é curto. Não deixe de fazer nada que queira, mas tenha responsabilidade e maturidade para arcar com as conseqüências destas ações.Lembrem-se: suas escolhas têm 50% de chance de darem certo, mas também 50% de chance de darem errado. A escolha é sua.. !            
    Pedro Bial

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Vídeo sobre a "Passeata da Paz"



Passeata que de Paz só tem o nome, pois acaba com assalto e quebra pau entre políticos.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

"Você pode pensar muitas coisas
pode achar que nada supera o capitalismo
ou ter certeza que o comunismo é a única saída.

Você pode pensar que existe vários deuses,
um, nenhum
ou que eles eram astronautas.

Você pode ter varias teorias da conspiração
pode saber quem matou Kennedy.
Acreditar que a viagem à lua foi uma grande farsa
ou que Elvis está vivo.

Você pode pensar que a televisão é mais um eletrodoméstico na sua vida
ou que é uma das maiores intenções da humanidade.

Você pode pensar muitas coisas.
A única coisa que você não pode fazer é não pensar."

Comercial Futura
Relato Pessoal do livro Capão Pecado

Seja diferente

O livro Capão Pecado foi gostoso de ser lido pôr primeiramente eu gostar de ler sobre favela e por ser um livro escrito de uma forma interessante, com a própria linguagem do gueto, mostrando a vida de lá com um ponto de vista de quem vive lá e não com o olhar somente daqui de fora. Um livro que me ajudou a tirar ainda mais meu olhar preconceituoso sobre a favela, que me fez olhar a favela de outro modo, vendo que muitos que moram lá estão no caminho “errado” não por vontade própria, mas sim por falta de opção.

Favelado? Ui, eu quero distância, só pode ser bandido mesmo. Ir à favela? Jamais, só se eu estiver a fim de morrer. Esses são tipos de frases que grande parte da sociedade diz quando o assunto diz respeito às favelas. Frases que por sua vez são altamente preconceituosas, pois parece que na favela só há bandidos, traficantes, piriguetes, drogados, e que lá na comunidade só há troca de tiro, assalto, assassinato, bala perdida. É claro que tudo isso ocorre nas favelas, mas isso não acontece somente dentro das favelas, e sim em todos os outros lugares.

Essa vida na favela é o que o livro Capão Pecado de Férrez retrata. Nele contem histórias de pessoas e jovens comuns que moram na favela de Capão Redondo, retratando o cotidiano delas, que aparentemente são de pessoas que não tem nenhum futuro – Aquele futuro sonhado pela sociedade em geral - aonde em sua maioria são usuários de drogas, bandidos, traficantes e assassinos. Ver desde criança crimes acontecendo, barulho de tiros de metralhadoras, um lugar sem estrutura adequada de moradia, educação e saúde, por exemplo, faz a vida dessas crianças na favela ser complicada. Tornando “verdade” apenas o que essa elite fala, gosta e usa.

As palavras e xingamentos utilizados, as músicas ouvidas, as roupas vestidas, fazem que a sociedade olhe para a periferia com um olhar preconceituoso, sem saber respeitar os gostos dos outros, as supostas verdades e supostas mentiras vividas pelos outros. É por esses e outros motivos que à favela é tão recriminada e rebaixada pela tal chamada “classe média” e “classe alta”, que tomam por “verdade” apenas o que essa elite socioeconômica fala, gosta e usa. Isso é retratado na música Rap da felicidade de MC Cidinho e Doca que diz assim: “Enquanto os ricos moram numa casa grande e bela / O pobre é humilhado, esculachado na favela”.

O livro Capão Pecado fala com a linguagem que toda a população brasileira utiliza, e não apenas as pessoas dos guetos. Mostra a realidade das favelas, onde “nada são flores” e que até o mais honesto pode se corromper por alguma coisa, como foi o caso de Rael – personagem principal do livro –, pois além de tudo, morando na favela ou em bairro nobre, somos todos seres humanos e não estamos livres de cometer erros.

Não seja mais um brasileiro com esses olhares e pensamentos preconceituosos, amplie sua visão e veja que nem sempre as coisas são como a maioria pensa.
Lágrima de preta

Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.

Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.

Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.

Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.

Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:

nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.

António Gedeão
Ser negro é ser

Ser negro é ter a pele
pintada de dor e beleza.

É ter consciência de que
consciência, ainda não
existe.

Ser negro é ser dono da
alegria, e generosamente
dividi-la entre os filhos
do preconceito.

Ser negro é ser brasileiro
duas vezes.

É gritar não aos nãos
da vida.

Ser negro é ter a liberdade
disfarçada de alma.

Ser negro é ser.

Sintia Regina de Lima e Lira